DN, 17 de Dezembro de 2016
Text by MARINA ALMEIDA about André Carrilho’s “Uppercut”.
Artes
A SEGUNDA VIDA DOS MURROS NOS QUEIXOS QUE ANDRÉ CARRILHO NOS DÁ
O adeus a Muhammad Ali é um dos cartoons em exposição e venda
A exposição Uppercut está a partir de hoje no Passevite, em Lisboa. Serigrafias de grande formato para rever e levar para casa, se for caso disso
Uma onda de arame farpado e um barco minúsculo cheio de peças de um jogo de sorte ou azar. Este é um dos 14 cartoons editoriais de André Carrilho, publicados no Diário de Notícias, que vão estar expostos em grande formato na galeria Passevite, em Lisboa. É assim que Carrilho os imagina quando os desenha: “Eu quando faço os desenhos penso logo em quase posters”, ri-se o ilustrador, quando lhe perguntamos se este novo formato dos desenhos é, também, uma nova forma de expressão.
Uppercut, assim se chama a exposição que inaugura esta tarde (19.00) e fica patente até dia 5 de janeiro. O nome foi escolhido pelo ilustrador. Em sentido literal, o nome vem das artes marciais: é o movimento de baixo para cima que culmina com um murro nos queixos do adversário. “O mais importante quando faço um desenho é que penso em desferir uma opinião ou um golpe acerca de um assunto qualquer que me preocupa, daí o nome”, diz Carrilho ao DN.
A ideia de mostrar os cartoons ao público surge na sequência do convite dos amigos do coletivo de artistas Passevite. O ilustrador-boxeur não só acedeu como está satisfeito por tirar os cartoons dos ficheiros digitais e pô-los em serigrafias de grande formato (A2, 50 por 80), edição limitada e numerada, que serão vendidas a 120 euros cada. “O meu trabalho é publicado semanalmente e depois as pessoas deixam de o ver a não ser online, e achei que era uma boa oportunidade para ter uma recolha e dar uma segunda vida aos desenhos e para que pela primeira vez as pessoas tenham alguma coisa que possam comprar e adquirir porque o meu trabalho é digital e não há original propriamente que possa ser vendido. Aquilo que eu acho que é mais próximo de um original, são edições muito limitadas de dez, quinze serigrafias, assinadas.”
Os 14 cartoons que escolheu para a exposição estarão, assim, à venda em edições limitadas e podem ganhar nova vida nas paredes de uma casa, por exemplo. “Eu gosto da ideia de as pessoas conviverem mais com o desenho no dia-a-dia. Gosto que eles possam estar no quotidiano de outras pessoas e não estar só no computador no arquivo”, diz Carrilho. Para o artista, o desenho é um “diálogo” e “se não há um interlocutor não há grande diálogo”.
A partir de hoje há dezenas de desenhos à procura de novos olhares, na sala de exposição, na sala de uma casa. “Eu gosto que as pessoas possam pensar, concordar, discordar, reagir de alguma maneira ao desenho. É por isso que gosto de trabalhar sem pressa, para permitir que os desenhos tenham contacto com as pessoas e eu próprio posso inclusive mudar de opinião e achar que para a próxima tenho mais cuidado, ou menos, ou então através das reações reforço a opinião que eu queria transmitir com mais desenhos. É também uma maneira de eu pensar e ter uma visão do mundo. Se o trabalho fica aqui fechado perde um bocado o sentido”, diz a partir da “gruta” onde “está metido” a trabalhar.
Fez uma escolha dos desenhos, os mais recentes e os mais intemporais, “que permite sobreviverem sozinhos fora das páginas do jornal”. Murros nos queixos para ver e levar para casa. “Espero que as pessoas os vejam. E que gostem.”