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Article about Stolen Books

P3, 11 de Fevereiro de 2014

Text by ANDREIA MARTINS about Stolen Books.

 

Design e Artes Plásticas

STOLEN BOOKS: OS LIVROS DESTA EDITORA NUNCA SERÃO BEST-SELLERS

Editora independente de Lisboa publica projectos visuais na forma de livros. “Estes livros não nasceriam no contexto actual de publicação”, diz Luís Alegre

“Publicamos trabalhos cuja ausência constitui uma ofensa para o mercado internacional de livros” — é assim que a nova editora se apresenta no seu próprio site. A Stolen Books dedica-se às temáticas predominantemente visuais, com livros sobre fotografia, artes plásticas e ilustração para os nichos de mercado. Uma aposta ambiciosa que Luís Alegre, o impulsionador deste projecto, explica mais detalhadamente ao P3: “Estes livros não nasceriam no contexto actual de publicação”. São obras que não nasceram para serem “best sellers”.

Na Stolen Books, há uma preocupação com o próprio livro e não com a massificação, com a venda rápida. “Hoje a lógica dos livros é essa: como há muita gente a publicar, os livros têm muito pouco espaço nas livrarias e têm de fazer sucesso muito rapidamente ou serão substituídos por outros”.

Ganhou forma enquanto editora apenas em 2013 mas a ideia surgiu há alguns anos em jeito de brincadeira. Quando fazia a sua tese de doutoramento sobre a apropriação e a cópia na arte e no design, Luís Alegre usou documentos e a literatura que arranjava na Internet e colocou-os numa pasta a que chamou “Stolen Books”. Inventava também as capas dos livros e associava-lhes uma imagem do Mancha Negra, conhecido personagem do mundo Disney.

A marca ficou parada até ao ano passado, quando Luís Alegre começou a criar — por mera diversão — as imagens contidas no livro [No Audio]. As ilustrações do livro constituem uma representação muito simples e têm por base fotografias de vários universos, desde filmes de Hitchcock e Godard à publicidade dos anos 50, com frases quase como legendas, que são passagens de livros e foram descontextualizadas de forma arbitrária.

Foi colocando as fotografias no Instagram e os seus seguidores perguntavam-lhe como podiam ter estas imagens — daí surgiu a ideia de autopublicar um livro, em Maio de 2013. “Hoje em dia para se poder publicar tem de ser uma editora para lhe reconhecer o mérito. Mas a mim isso não me perturba. Com a auto-publicação gozo de uma enorme liberdade para poder fazer aquilo que me apetece. Os livros são mais cuidados do ponto de vista gráfico dos materiais”.

A Stolen Books é uma marca da Ideias Com Peso, um atelier de design de comunicação, com uma forte componente editorial que trata da imagem e grafismo de editoras mais conhecidas, como as do grupo Leya. Reúnem-se assim no mesmo espaço, com as mesmas pessoas, os livros mais “underground” e os mais didácticos, duas formas de criação tão diferentes, mas tão complementares: “Juntamos o institucional ao experimental. Vamos desde os livros mais underground até aos mais didácticos.”

Até porque trabalhar fora desta contingência dos grupos editoriais pode ser saudável: “as grandes tiragens no caso dos materiais escolares por exemplo, são de grande responsabilidade. Por vezes também gostamos de experimentar, pensar fora da caixa. A experiência e a experimentação da Stolen Books é complementar e pode ser produtiva para outros trabalhos.”

Enquanto publicava o seu próprio livro, a primeira obra editada pela então oficial Stolen Books, os amigos, colegas e conhecidos ligados às artes visuais foram demonstrando interesse em associar-se à mini-editora para publicar desta forma. Os livros “Grey Matter”, de Miguel Palma e “Red Label” dos irmãos TOYZE foram publicados em Outubro e Novembro de 2013, respectivamente. Para breve estão os livros do fotógrafo José Maçãs de Carvalho e dos artistas Alice Geirinhas e João Fonte Santa.

A maioria das editoras mais conhecidas e de distribuição “mainstream” não apostaria em publicações desde género. “Não são nem visam ser “best-sellers”. Destinam-se a um nicho de mercado, para além de que dificilmente se enriquece com uma coisa destas. Não é um negócio para fazer dinheiro a curto prazo, ele apenas se paga a si próprio”, esclarece Luís Alegre.

Daí que seja conveniente o pequeno número de exemplares que cada edição tem (máximo de 300 exemplares por livro). Impressões reduzidas constituem um menor investimento quando a procura é limitada: “Temos consciência de quem é o nosso público e do momento em que estamos a viver. Se calhar há cinco anos editava 1000 livros. Hoje há menos gente interessada em comprar”.

Mesmo com a crise e com a própria natureza deste pequeno mercado, continua a haver pessoas interessadas no momento presente. Mas é no futuro que as publicações poderão ter grande valor comercial, exactamente por serem de edições muito limitadas, e por isso mesmo raras — há uma possibilidade de “rentabilidade futura” do projecto, o que mostra que, no que toca a livros, “há espaço para todos os tipos de negócio”.